quarta-feira, 6 de junho de 2007

Escapadela, vontade de

Biblioteca em fogo, Vieira da Silva

Este é um daqueles quadros que parece que nos engole para dentro de si...
Vi-o pela primeira (e única) vez ao vivo na Fundação Arpad Szenes-Vieira da Silva, em Lisboa, e a sensação que tive foi essa mesmo... vontade de me perder nos labirintos e nas cores quentes desta obra.
A partir do próximo dia 13 (e até 28 de Setembro) vai estar exposto em Paris. A mim parece-me um bom pretexto para revisitar a cidade da luz...


Gulbenkian leva a Paris 44 obras de Vieira da Silva

A Fundação Calouste Gulbenkian apresenta a partir da próxima semana em Paris, pela primeira vez, uma exposição de 44 obras de Vieira da Silva que coincidirá com a data em que a artista completaria 99 anos.

A exposição homenageia a artista em Paris, no cinquentenário da FCG, com oito pinturas e uma gravura do acervo do Centro de Arte Moderna José de Azeredo Perdigão, e três óleos, um guache e 31 trabalhos sobre papel, entre desenhos e gravuras, pertencentes à colecção da Fundação Arpad Szenes-Vieira da Silva, disse à Agência Lusa uma das comissárias, Ana Vasconcelos e Melo.

A pintora teve uma longa relação com a Fundação Gulbenkian, que teve um grande papel na divulgação da sua obra em Portugal, através quer da organização de exposições e aquisições, quer do apoio à realização do seu «Catalogue Raisonnée» e à criação da Fundação que tem o seu nome e o do pintor de origem húngara com quem se casou em 1930, Arpad Szenes.

Com uma estrutura mais temática do que cronológica, a exposição mostra a evolução de alguns temas chave da vasta produção da artista, nomeadamente as estruturas espaciais fechadas dos primeiros anos, os tabuleiros de xadrez e os arlequins, o tema da guerra e as suas investigações mais maduras sobre espaço, características das suas construções e bibliotecas.

De salientar na exposição, segundo a comissária, são duas séries de retratos, «excepcionais na obra de Vieira», do poeta René Char, - que era seu amigo - e do escritor e político André Malraux, feito de memória após uma visita deste ao seu atelier.

Para cada tema, e à volta de uma pintura emblemática, foram reunidos trabalhos em papel que complementam e esclarecem o trabalho preparatório mas autonomizado que acompanhou a realização das pinturas, referiu Ana Vasconcelos e Melo, conservadora do Centro de Arte Moderna José de Azeredo Perdigão da FCG.

A exposição, que ocupa a entrada e parte do primeiro andar da casa onde viveu Calouste Gulbenkian em Paris, na Avenue D'Iéna, perto do Arco do Triunfo (actual Centro Cultural Calouste Gulbenkian), abre com dois óleos de 1936, «La rue, le soir», uma primeira pesquisa sobre o espaço no ambiente urbano, com figuras que a artista constrói e desconstrói, e «Composition», onde estruturas tubulares e geométricas se entrecruzam formando redes, teias e labirintos - explicou a conservadora.

Surge depois o período da guerra, que fez a artista sair de França para Portugal e o Brasil, durante o qual retoma a figuração e de que são exemplos «5 Octobre 1788» e «Vers le 05 Octobre 1788», ambos na exposição, e também o seu famoso quadro «História Tragico-Marítima» (1944), actualmente emprestado ao Museu de Arte Moderna de São Paulo, no Brasil.

Com o fim da Segunda Guerra Mundial e o regresso a França, em 1947, a artista volta à linguagem abstracta mais característica da sua pintura e ao trabalho sobre os temas anteriores, tornando-se progressivamente mais conhecida e uma artista de craveira internacional nas décadas de 50 e 60.

Dessa fase de maturidade, em que a artista «retoma e expande a sua mão e vai por aí fora sem parar», nas palavras de Ana Vasconcelos e Melo, são, entre outras, as telas «L´Oranger» (1954), já completamente abstracta, e «Bibliothèque en feu» (1970/74), a última em data das obras apresentadas.

A exposição, a primeira que a Fundação Calouste Gulbenkian realiza sobre Vieira da Silva em Paris, é inaugurada dia 13, dia do aniversário da artista (e por coincidência de Fernando Pessoa), ficando patente até 28 de Setembro.

A escolha de Paris para a realização da exposição deve-se à forte relação da artista com a França, o país onde chegou, com a mãe, em 1928, para ficar, e que marcou toda a sua obra, juntamente com o seu país de origem, Portugal, ao qual voltaria por curtos períodos. Em 1956 foi-lhe dada a nacionalidade francesa.

O catálogo da exposição contém um texto evocativo da autoria de Michel Butor sobre a prática da pintura em Vieira da Silva, além de textos das comissárias, Ana Vasconcelos e Melo e Marina Bairrão Ruivo, e um texto sobre o desenho na obra de Vieira da Silva de Isabel Matos Dias Caldeira Cabral.

in Diário Digital

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