quarta-feira, 17 de outubro de 2012

há coisas para as quais não temos palavras. Os estados de alma são dessas coisas. Por isso há tanto que fica por dizer, mesmo aqui, ao abrigo de um semi-anonimato que ajuda a esse exercício catártico que dá pelo nome de escrita. Hoje não está a ser um dia fácil. Penso que o sol se foi e que este País ficou ainda mais deprimente, mais triste... Ao almoçar sozinha num centro comercial, observo uma avó (à antiga) a dar a sopa à neta (que não deve ter mais de quatro anos). A sopa está num termo vermelho daqueles em que as nossas avós guardavam a sopa. Não é de design retro, é mesmo antigo, como aquela avó... Até a menina não parece deste tempo, nenhuma daquelas personagens pertence à confusão de tabuleiros e fast-food que as rodeia. Ou se calhar o que as rodeia é que já está fora de tempo. Não sei... Só sei que a única coisa que me apetece naquele momento é abraçar o meu filho e dormir a sesta agarradinha a ele. Impossível. Doloroso. Frustrante. Ridiculously short, o tempo que nós, mães, temos para dedicar aos filhos... Fecho os olhos e imagino o nosso serão de logo, em que vamos acabar de jantar e o Manel vai começar a dançar ao som da música imaginária do genérico da Ovelha Choné (a abanar os braços no ar) como forma de exprimir a sua vontade. Vamos sentar-nos em frente à TV e ver um dos muitos episódios que o pai grava propositadamente para ele. Vamos quiçá ter tempo ainda para ler uma estória, folhear um livro, construir uma torre... Ter tempo para ser felizes. Porque no final é isso que importa, construir memórias felizes.

4 comentários:

Ana disse...

Sim, é mesmo o que importa. É preciso ter essa vontade/capacidade de agarrar o que é genuinamente bom, em qualquer circunstância, para compensar o cinzento que nos chega lá de fora.

Rita disse...

Macaca, a maravilha da vida é isso mesmo, que quando vês as gémeas da casa dos segredos ou a avó do termo vermelho e antigo, pensas e sentes. E isso é muito bom! o pensar pode depois levar a outras conclusões, menos interessantes... mas sentes qq coisa, quando 95% das pessoas andam alienadas do mundo. é bom teres o teu filho, o teu ninho, o teu mundo, onde cabem todos os sonhos do mundo. força nesses almoços!! bjs

Unknown disse...

Que bom poder, ainda assim, apesar de tudo, viver esses momentos, e saber que eles são os mais importantes. É bom quando temos a noção de que estamos a viver um momento feliz, mesmo que escondido na banalidade e dificuldade dos dias.

São estes os momentos de felicidade

Beijinho

Melancia disse...

Dizem que o tempo é relativo, que o que importa é o uso que lhe damos, que o que vale é a sua qualidade... Pois pode ser, mas um bocadinho mais de quantidade nunca fez mal a ninguém!