terça-feira, 17 de fevereiro de 2015

perguntou-me se lhe podia dar alguma coisa. eu, que acabara de sair do supermercado, ofereci-lhe a baguete a que já tinha roubado uma ponta (no regresso a casa ao fim do dia a fome aperta sempre...). ele agradeceu e disse-me que a guardasse porque já tinha dois pães de Mafra. "às vezes a Comunidade Vida e Paz também me deixa aqui algumas coisas, mas o pão deles não presta", confessou-me. perguntei-lhe o nome: António. explicou-me onde dorme e disse-me que tem 59 anos. disse-lhe que ainda é muito novo para viver "assim". "nova é a menina", ripostou. insisti, que "com 59 ainda se tem muito para viver". insisti, porque escondidos pela barba mal aparada e suja e pelo boné coçado, vislumbrei uns olhos jovens, brilhantes e vivos. contou-me um pouco da sua história, ouvi-o, mas quando o álcool começou a falar - apercebi-me que já estava bastante escuro e que a conversa começava a ser imprópria para uma "menina" sozinha - despedi-me e disse-lhe "cuide de si, Sr. António". quero acreditar que a nossa conversa lhe possa ter dado um pouco mais de alento do que a baguete do Pingo Doce.

1 comentário:

anovska disse...

E às vezes é quanto lhes basta: uma baguete e dois dedos de conversa...